"LIBERATION FESTIVAL"
25/06/2017 - Espaço das Américas - São Paulo - SP
Atrações: "King Diamond", "Heaven Shall Burn", "Carcass", "Lamb of God"

Por Marcos Franke | Foto (promo)
(publicada em 27, jun, 2017 | 23h27)

King Diamond materializa o horror do conto Abigail com perfeição e emociona fãs para sempre!

O Liberation Festival foi um grande desafio. Acredito que o maior desafio que a produtora Liberation já encontrou pela frente. Conseguir trazer uma das maiores lendas do Heavy Metal após um hiato de mais de 20 anos para São Paulo, deve ter sido uma tarefa árdua. Mas não satisfeitos decidiram complementar o show com bandas mais modernas. Parece loucura, mas algumas bandas como Heaven Shall Burn, Test e Lamb of God aceitaram o desafio, mas sabiam que o público seria mais tradicional – isto é, nada de modernismos. A exceção para a regra criada pelos fãs tradicionais foi o Carcass, para mim o camaleão do metal extremo, por já ter passado por tantas fases. Começaremos pelo representante nacional no evento, o Test. Com apenas dois integrantes, João Kombi (guitarra, voz) e Barata (bateria) trouxeram para o palco o tradicional deathgrind, uma mistura de death metal com grindcore. Com influências fortes de Napalm Death, Terrorizer e Autopsy, João Kombi e Barata tocaram músicas sem citar seus respectivos títulos, deixando o público ser levado pelo som caótico e insano proporcionado pelo estilo.

A primeira atração internacional do dia foram os alemães do Heaven Shall Burn. Banda formada em 1996 em Erfurt, Turíngia tem em sua formação os músicos Marcus Bischoff (voz), Maik Weichert (guitarra), Alexander Dietz (guitarra), Matthias Voigt (bateria) e Eric Bischoff (baixo) e lançaram em 2016 seu 14º petardo chamado Wanderer. Com uma passagem de som mais rápida que um relâmpago, até atração internacional teve que se virar nos trinta. O que foi uma grande pena. O Heaven Shall Burn tem momentos incríveis em suas melodias e o álbum mais recente trouxe isto ainda mais em evidência. Músicas como The Loss of Fury e Bring the War Home, esta última um dos grandes hinos do fantástico álbum Wanderer, foram completamente descaracterizadas pelo som embolado dos amplificadores. A única coisa que se ouvia era uma grande confusão de melodias e o trabalho de riffs, o ponto forte do Heaven Shall Burn, foi comprometido. Uma grande pena. Vale citar também Corium, do álbum Wanderer, com sua melodia pegajosa e um dos pontos mais altos do show, passaram desapercebidos – o que para mim foi uma verdadeira lástima. Queria muito ter ouvido melhor uma das bandas que possui os riffs mais originais do death metal melódico. A banda encerrou seu setlist com Black Tears, um cover para o grandioso Edge of Sanity, uma de suas grandes influências.

O palco dava espaço para a próxima atração da noite – o Carcass. Com um público visivelmente mais empolgado a banda inglesa subiu ao palco com Bill Steer (guitarra), Jeff Walker (voz, baixo), Daniel Wilding (bateria) e Ben Ash (guitarra) e trouxe para o deleite do público grandes clássicos do death metal, como a grandiosa Buried Dreams (Heartwork/1993) e a absurda Carnal Forge (Heartwork/1993) que até agora não entendo por que rodas não se abriram para curtir este grande clássico na área VIP da casa de shows. Claro que houve também momentos de clássicos do grindcore com Exhume to Consume (Reek of Putrefaction/1988) e Reek of Putrefaction (Reek of Putrefaction/1988) que deixaram os headbangers sem saber o que os atropelou. É importante notar, que o som do Carcass, ao contrário da banda anterior Heaven Shall Burn, estava muito melhor e muito menos embolado para se entender. A banda encerrou seu show com a grandiosa Corporal Jigsore Quandary (Necroticism – Descanting the Insalubrious/1991) e o clássico Heartwork (Heartwork/1993) com destaque para a grande dupla do death metal Bill Steer e Jeff Walker – sempre um grande prazer ver esta dupla tocando juntos.

Era a vez do Lamb of God – banda que conforme alguns relatos dos próprios integrantes entrará em hiato para que Randy Blythe (voz) consiga se recompor após toda a polêmica envolvendo a morte de um fã na República Tcheca, após ter sido responsabilizado injustamente em tê-lo empurrado do palco. Este desgaste pôde ser notado claramente no restante da banda que completa com Mark Morton (guitarra), os irmãos Willie (guitarra) e Chris Adler (bateria) e John Campbell (baixo). A banda abriu seu set com a clássica Laid to Rest (Ashes of the Wake/2004) e logo deu para notar que algo não estava bem com o ritmo da música. Randy, conseguiu disfarçar muito bem com seu carisma e as guitarras simplesmente continuaram no automático. Tudo ficava mais audível com a melhora considerável do som que saía das caixas de som. Mas os fãs da banda não estavam muito preocupados, pois agitavam e muito em frente do palco. Com execuções de pedradas como Now You’ve Got Something to Die For (Ashes of the Wake/2004), Hourglass (Ashes of the Wake/2004) e Set to Fail (Wrath/2009) a banda também colocou faixas do melhor álbum da banda – o grandioso Sacrament (2006). Com músicas como Walk with Me In Hell, Blacken the Cursed Sun e Redneck o quinteto estadunidense mostrou naquele palco o que há de melhor hoje em dia da grande mescla de influências que a banda possui.

Era a vez da grande estrela da noite, o King Diamond. King Diamond simplesmente deu aos fãs aquilo que eles queriam ver e mais, trouxe em sua mala todo o cenário para explicar em detalhes, com atores, a história do álbum Abigail lançado em 1987. A felicidade de ouvir grandes riffs de Andy LaRocque foram inexplicáveis – sem contar com os falsetes perfeitos de King Diamond. Que grande experiência foi esta ouvir ao vivo grandes clássicos de sua carreira solo como Welcome Home (Them/1988), Sleepless Nights (Conspiracy/1989), a grandiosa Halloween (Fatal Potrait/1986) e a empolgante Eye of the Witch (The Eye/1990) com uma interpretação impressionante para um cantor de 61 anos! Para o deleite dos fãs, cada uma interpretada pela atriz e de seus ajudantes vestidos com uma túnica negra. Com a execução da maravilhosa Melissa (Melissa/1983) e Come to the Sabbath (Don’t Break the Oath/1984), trouxe não somente as únicas representantes de sua fase no Mercyful Fate como também o pentagrama com o famoso bode iluminado em vermelho, como as cruzes invertidas – que momento incrível!

O que realmente todos ali presentes vão levar para toda a eternidade no entanto foi a representação do álbum Abigail, ali em frente deles. Abigail conta a história de um jovem casal, Miriam Natias e Jonathan La’Fey que se mudam para uma mansão velha que Jonathan havia herdado. Ao chegarem na mansão, num iluminado verão de 1895, eles são advertidos por sete cavaleiros para não se mudarem para a residência – advertência esta ignorada pelo casal. Claro que a partir daí, tudo dá errado e uma incrível história de terror toma conta do palco. Momentos impactantes visuais de muito terror se mesclam com a excelente interpretação de King Diamond em cima do palco como contador de história. A atriz em cima do palco, interpreta com perfeição toda a trajetória terrível de Miriam, desde a sua possessão até a sua trágica morte. Músicas emblemáticas como Arrival, A Mansion in Darkness e The Family Ghost, demonstram a grande importância dos riffs melódicos para o heavy metal, sem contar os falsetes incríveis de Diamond que interpretam com uma competência absurda os passos trágicos do casal na mansão. Meu momento preferido claro, ficou para The Possession, momento em que Abigail toma conta de Miriam, esposa de Jonathan. O show termina com a execução de Black Horsemen, um dos muitos pontos altos do show, que conta a história da morte de Jonathan e o nascimento de Abigail através de Miriam, que antes de morrer vê os olhos amarelos de Abigail e morre gritando de doe e horror. O show termina com Abigail sendo levada para fora do palco e assim também a nossa história no Espaço das Américas. King Diamond claramente emocionado mal consegue deixar o palco e depois de uma demorada despedida, o show termina. Que grande show, que experiência, que Festival. Obrigado Liberation por terem marcado a vida de tantos fãs. Bravo!