"VODAFONE PAREDES DE COURA"
16, 17, 18, 19/8/2023 - Paredes de Coura - Portugal

Por Luiz Soncini e Luciana Ribeiro
(publicada em 12, out, 2023 | 15h47)

A celebração do 30º aniversário do Festival Paredes de Coura teve “quase tudo” para ficar registado na galeria das edições memoráveis deste histórico evento.

Um dos mais convidativos destinos para se desfrutar dias do verão nas fronteiras entre Portugal e Espanha, “O habitat natural da música” localiza-se na praia fluvial do Taboão, as margens do Rio Coura, no município que empresta o nome ao festival e configura-se por amplos espaços que são abraçados por frondosas árvores e belíssimas paisagens formando o singular anfiteatro natural que tanto característica o palco principal.

Entre os maiores, melhores e cultuados festivais portugueses, o Vodafone Paredes de Coura foi mais uma vez muito bem organizado pela Ritmos e ofereceu zona de campismo, serviços e múltiplas opções de restauração e, como de costume, trouxe um alinhamento apurado e coeso, leal ao espírito alternativo e multifacetado que o define. O recinto dividido em dois palcos, “Yorn” e “Vodafone”, secundário e principal respetivamente, e cartaz que apresentou diversos nomes “desconhecidos” para alguns, mas que ao final muitos deles passam-se a fazer parte da nossa prateleira de bandas, algo que por sinal é uma das características mais brilhantes deste festival. Outra surpresa desta edição (ou motivo de críticas) foi os horários tardios das apresentações que adentraram a madrugada, porém imaginamos que será algo a ser repensado para as próximas edições.

Infelizmente não nos foi possível presenciar as atuações do dia 16, onde estiveram nomes como JESSIE WARE, FRANK CARTER & THE RATTLESNAKES, YO LA TENGO, entre outros. No dia seguinte não chegamos a tempo de assistir a portuguesa A GAROTA NÃO e o brasileiro TIM BERNARDES. A partir daí, no Palco Yorn, assistimos o trio AVALON EMERSON & THE CHARM com seu Dream Pop/Trip Hot envolvente, dançante e embelezado pelos suaves vocais de Avalon. Na sequência, no palco principal, foi a vez dos THE BRIAN JONESTOWN MASSACRE, banda de San Francisco liderada por Anton Newcombe que destilam virtuosismo e psicadelia na sua mistura particular de Shoegaze e Rock n Roll. De volta ao outro palco, também da Califórnia, a multi-instrumentista SUDAN ARCHIVES faz uma mistura de Experimentalismo, R&B, Soul e usualmente saca a sua flecha, digo violino, para oferecer um toque particular a sua cativante e irreverente apresentação. Após uma década de hiato, os nova-iorquinos THE WALKMEN regressaram em excelente forma e presentearam os festivaleiros e a audiência televisiva da SIC com muita vitalidade e energia do seu Indie Rock revigorado. Outro ponto alto do 2º dia deu-se no fechamento do palco secundário, os DESIRE, duo canadense, mescla sintetizadores e os vocais emotivos e sensuais de Megan Louise, emoldurados em ambiência fetichista provocou forte adesão do público. Destaca-se a inclusão de versões de “Bizarre Love Triangle” dos New Order e "Can´t Get You Out of My Head" da Kylie Minogue. O rapper britânico LOYLE CARNER acompanhado por banda, não muito comum dentro do estilo, fez uma apresentação consistente e interessante, numa mescla de Hip-Hop, Jazz e Soul. Já eram 1h40 e não houve deceção para todos que aguardaram o impressionante concerto de Karin Dreijer, a.k.a. FEVER RAY, e suas parceiras. Este surpreendente e exuberante projeto sueco é um exemplo de música eletrónica de vanguarda com vocais distintos, elementos exóticos, ações performáticas, moda excêntrica; tudo a chocar com os limites da beleza e do grotesco. Excelente!

Se festival molhado é abençoado, o 3º dia do festival já arrecadou bênçãos para umas duas edições! Dito isso, é importante destacar e louvar a resiliência dos festivaleiros e demais pessoas envolvidas para o normal andamento do evento. Iniciou-se com a apresentação de CHINASKEE, com seu rock descontraído e com ambiência infernal. Na sequência foi a vez dos londrinos KOKOROKO, grupo de instrumentistas que empolgaram o público já presente a fundir Jazz com Afrobeat e foram um dos únicos, neste dia, que ocuparam o amplo espaço do palco principal. No palco Yorn, também instrumentistas, os portugueses EXPRESSO TRANSATLÂNTICO fizeram uma intensa e interessante apresentação a mesclar guitarra portuguesa e demais instrumentos, com influências lusas, brasileiras e africanas. A partir deste momento o palco Vodafone passou a ter apresentações onde parecia muito espaço para poucos artistas, independentemente da qualidade de cada um e da chuva que teimava a cair cada vez mais volumosa, os primeiros neste âmbito foi a dupla francesa DOMI & JD BECK, ou seja, Domi sentada numa retrete no seu teclado e JD Beck a sua frente a tocar bateria; mesmo sendo um tanto “estáticos” flutuaram entre o clássico e o moderno no seu jazz inovador. De volta ao outro palco, os jovens THUS LOVE fazem Post Punk com sonoridades à Joy Division e nomes dos 80´s trouxeram, mesmo com algumas falhas técnicas, uma apresentação dinâmica e com um cariz mais agitado. No palco principal seguiu-se o rapper sueco YUNG LEAN conhecido pelo seu “Sad Rap” e que apresentou temas melancólicos banhados pela insistente chuva. Substitutos dos THE LAST DINNER PARTY, que cancelaram a apresentação por questões de saúde no dia anterior, os portugueses MAQUINA encerraram o palco Yorn e mostraram-se uma aposta mais do que acertada num concerto repleto de fumo, distorções, noise, infindáveis pulsações e uma atmosfera de culto que levaram o público ao delírio e a quase exaustão, porém esta só se fez sentir mesmo no concerto que se seguiu no palco principal, no mesmo nível de empolgação os britânicos BLACK MIDI fizeram a brava audiência esquecer um pouco do diluvio e vibrar com seu experimentalismo entre elementos de jazz e punk. Para finalizar este molhado 18 de agosto e já madrugada adentro, a rapper londrina LITTLE SIMZ apresentou-se para o público que prestigiou a cantora caracterizada pelas suas atuações e marcantes letras

Já sem chuva no sábado, de Barcelos, os INDIGNU foram os primeiros do último dia do Paredes de Coura em 2023 e trouxeram o seu Rock Instrumental com boa intensidade e empolgação. Seguiu-se LEE FIELDS, já com seus 70 e tais anos, consagrado artista americano esbanjou carisma e simpatia e prendeu o público com suas canções repletas de Soul e Swing. Na nossa constante troca de recintos, os próximos foram os neerlandeses YIN YIN, com sua atmosfera psicadélica e elementos de World Music, fizeram uma apresentação criativa e cativante. O duo britânico de Nottingham, SLEAFORD MODS, foi uma das nossas apresentações de destaque. O vocalista Jason Williamson tem a sua forma irónica, performática e cómica de vociferar as suas críticas políticas e sociais sobre uma base com elementos Punk, Hip-Hop e EBM pré-programada por Andrew Fearn, o qual se limita a iniciar cada tema no portátil e “dançar ao seu estilo” ao fundo do palco. Uma apresentação contrastante e contagiante. O coletivo CRACK CLOUD do Canadá foi também uma boa e cativante surpresa com sua mistura de Punk e New Age onde o vocalista é também o baterista. Os texanos EXPLOSIONS IN THE SKY foram os próximos no palco Vodafone e demostraram a sua complexidade sonora dentro do Rock Instrumental. O encerramento do Yorn ficou a cargo dos insanos LES SAVY FAV com seu Indie Rock com traços de Punk e Hardcore. Uma apresentação inesquecível e frenética onde o vocalista Tim Harrington passou parte do concerto ao meio dos festivaleiros a fazer o que lhe apetecia e de acordo com o que encontrasse pela frente. Já veteranos e prestes a completar 30 anos, os americanos WILCO regressaram com seu Rock Alternativo e fizeram a alegria da parte da audiência mais velha que enchia o recinto. Pela 1 hora do dia 20 ouviu-se as primeiras batidas de “Royals” e fez a alegria da multidão fanática que aguardava uma das mais inovadoras artistas da música Pop atual. Com cenário próprio e solitária no grande palco, a neozelandesa LORDE encerrou o cartaz do festival viajando por todos os seus êxitos como “Team”, “Perfect Places”, "Mood Ring", "Tennis Court",... e teceu elogios ao público português que tão bem a recebeu quando ainda despontava com 16 aninhos na primeira vez que se apresentou por cá.

Na nossa opinião e a justificar o “quase tudo” do início desta cobertura, em 2023 parece ter faltado pelo menos um ou dois nomes mais consagrados e houve pelo menos um leve percalço no que se trata da adesão inferior aos 100 mil festivaleiros que usualmente comparecem ao Paredes de Coura. Por outro lado, estamos certos de que este passo atrás resultará em dois a frente em 2024, onde já há promessas de nomes fortes e o aproveitamento da véspera de feriado para quatro dias inesquecíveis de 14 a 17 de agosto no “Couraíso”, preparem-se desde já!

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