Por Luane Arruda | Foto: (divulgação)
(publicada em 15, nov, 2023 | 06h01)
“Se você é um daqueles que diz: “Eu amo o Pink Floyd, mas não suporto a política do Roger, vaza pro bar. Obrigado”.
Não sei você, mas na noite do último domingo 12 de novembro, no Allianz Parque em São Paulo, eu vi um estádio virar do avesso. Eu vi. Uma apresentação extraordinária de Roger Waters. O lendário co-fundador do Pink Floyd trouxe consigo não apenas uma performance musical, mas uma experiência teatral inesquecível de sua turnê “This is Not a Drill”.
Um show pra todo mundo ver e não ter onde botar defeito. Um telão ia de ponta a ponta no palco e em um português meio espanhol, um aviso de que o show começaria em 15 minutos era mostrado, assim como serviu para contar histórias, manifestos e agradecimentos.
Desde o início, a plateia foi envolvida em uma jornada emocional e visual que transcende os limites do convencional. Emocional em um ponto que todo mundo gritava para fora, mas por dentro, a alma gritava junto. A fusão de música, efeitos visuais e mensagens de resistência criou uma experiência única.
O show começou com “Confortably Numb”, que visivelmente emocionou muitos fãs 30/40/50/60 e até 70+ que estavam próximos a mim. Seguindo com “The Happiest Days of Our Lives” e a clássica “Another Brick in the Wall”. Em “The Powers That Be”, crimes de Guerra foram citados, com as fotos de Bush, Obama, Trump, Biden...
O exposed continuou em “The Bravery of Being Out of Range”, onde o manifesto era sobre os países, cidades e seus crimes, como por exemplo:
Ubicación
Rio de Janeiro,
Brasil
Crimen:
Criticar a la policía
Castigo:
Muerte
Em momentos como esse, Roger fez o estádio vir abaixo.
Durante boa parte do show, o telão mostrava imagens de agressões, catástrofes, explosões de guerra, e também toda a desigualdade sobre ser mulher, negro, homossexual, empregada doméstica, palestino, entre muitos outros exemplos.
Além dos sucessos do Pink Floyd, Roger encaixou como ninguém músicas de seus trabalhos mais recentes, isso sem cansar ou fazer a plateia perder o interesse. “The Bar”, “Have a Cigar”, e a clássica “Wish You Were Here”. Em “Shine On You Crazy Diamond”, uma luz vermelha iluminava o estádio por uma fração de segundos a cada vez que ele cantava “Shine” enquanto abria os braços. Emocionante.
Já em “Sheep”, do álbum Animals, música inspirada na Revolução dos Bichos de George Orwell, um balão gigante com formato de ovelha passeou pela plateia enquanto a música rolava. Um primeiro ato de tirar o fôlego.
Durante a pausa, foi a vez do porco voador passar pela plateia com as frases: “You're up against the wall right now” e “He's mad don't listen”.
Depois de alguns minutos de pausa, Waters voltou com tudo em seu manifesto musical contra a injustiça e a opressão sentado em uma cadeira de rodas, vestindo uma camisa de força, abriu com “In the Flesh”, seguindo com “Run Like Hell”, onde expôs imagens de um bombardeio que foi vazado por uma soldada americana corajosa.
Em “Money”, todo mundo cantando e dançando no ritmo da música. “Us and Them”, mostrou fotos de pessoas no telão, crianças, idosos, adultos, indígenas...
Agora, “Eclipse”, foi um dos pontos altos do show, onde Roger trouxe a projeção de um arco-íris e três triângulos. De arrepiar, de chorar, inesquecível.
O espetáculo já ia se encaminhando para o final, quando trouxe a reprise de “The Bar”, convidando seus músicos a fazerem um brinde, virando um shot, que segundo ele, não era água.
E finalizando com “Outside the Wall”, onde foram lentamente se retirando do palco, acenando e finalizando a música dentro das coxias do palco.
Uma noite inesquecível, memorável, cheia de carisma, conexão, ativismo e uma vontade de sair de lá e mudar o mundo de alguma forma. Sem dúvidas, o melhor show da minha vida, que só não me deixou sem palavras, porque eu digitei essa carta de amor em uma resenha. Todos aqueles momentos irão ecoar nas memórias daqueles que foram privilegiados o suficiente para testemunhar essa lenda viva em ação.