"C. A. ViLAR DE MOUROS 2023"
23, 24, 25 e 26/8/2023 - Vilar de Mouros - Portugal

Por Luiz Soncini e Luciana Ribeiro
(publicada em 22, dez, 2023 | 0h01)

O festival mais antigo da Península Ibérica, localizado ao norte do país e a poucos minutos de Espanha, o Vilar de Mouros é um dos eventos mais esperados pelos festivaleiros portugueses, principalmente para os adeptos das vertentes mais alternativas, míticas e roqueiras da música mundial.

Este festival também situa-se às margens do Rio Coura, porém no município de Caminha; o que proporciona belas paisagens, natureza envolvente e ótimo ambiente para convívio e relaxamento durante os dias de elevadas temperaturas habituais nesta época do ano.

Tendo agora a instituição financeira Crédito Agrícola como “naming sponsor”, o festival passou a ter 4 dias e apostou novamente em apenas um palco, ampliando assim o espaço para o público, restauração e serviços; para além de oferecer grande zona de estacionamento e campismo.

Com destacada organização e produção pela Colectivo, os 17 nomes que se apresentaram nesta edição foram divididos pelos quatro dias de eventos, sendo que no primeiro, que infelizmente não nos foi possível estar presentes, contou com os nacionais MICOMANÍACOS, os americanos THE LAST INTERNATIONALE, os britânicos ENTER SHIKARI, os lendários do rock lusitano XUTOS & PONTAPÉS e os LIMP BIZKIT, esperados desde o cancelamento para a edição de 2022.

A partir do dia 24 de agosto, o alinhamento teve 4 apresentações em cada dia, onde o cabeça de cartaz é o penúltimo a se apresentar. Desta forma, o primeiro dia foi aberto com o metal alternativo dos NOWHERE TO BE FOUND, banda portuguesa oriunda das ondas da Ericeira que prendeu a atenção dos já presentes e daqueles que adentravam o recinto com a qualidade sonora, simpatia e envolvência do vocalista Tiago Duarte. Com ¼ de século nas costas, seguiu-se o punk melódico e vibrante dos suecos MILLENCOLIN, energia suficiente para acender o fogo para a apresentação mais esperada do dia. THE PRODIGY regressaram a Portugal desde o passar precoce do inesquecível vocalista Keith Flint em 2019, sempre recordado e homenageado durante as arrasadoras apresentações deste projeto britânico que faz uma patchwork de estilos e continua a revolucionar a música eletrónica mundial. Menos estrondoso e apelativo, mas ainda em vibes eletrónicas, a noite foi encerrada pela DJ set dos italianos THE BLOODY BEETROOTS.

A sexta-feira foi dedicada as sonoridades mais pesadas e enquadradas dento do Metal. Já com 30 anos de histórias e precursores da música industrial obscura em Portugal, os demolidores BIZARRA LOCOMOTIVA abriram as hostilidades do dia com o recinto já bem composto, principalmente pelos fiéis seguidores da banda lisboeta que presenciaram uma apresentação fervorosa e com constante envolvência e troca de energia entre o público e o vocalista Rui Sidónio. Muito bom!!! Tendo como diferencial os violoncelos, os finlandeses APOCALYPTICA mesclam o clássico ao metal de forma intensa e com muita criatividade, resultando num espectáculo singular dentro do estilo. Não faltaram as tradicionais versões dos Metallica, como por exemplo “For Whom the Bell Tolls” e “Nothing Else Matters”. Ícones do metal gótico, os neerlandeses WITHIN TEMPTATION foram impecáveis em tudo que se espera da apresentação de um cabeça de cartaz. Apesar de pontualmente pisarem a linha do exagero nos clichés, a banda entregou tudo: cenografia, luzes, potência, qualidade sonora e a belíssima lírica voz da carismática vocalista Sharon den Adel… e ainda a bandeira azul e amarela a tremular pelo palco num tema dedicado à Ucrânia, imbecilmente atacada numa das insanas guerras que continuam a ser declaradas em pleno século XXI. Ligeiramente desenquadrado dos demais, os australianos PENDULUM apresentaram o seu rock “drum n' bass” que os tornam referência no estilo, com destacada qualidade e iluminação especial e bem programada, tudo a oferecer uma experiência eufórica ao público.

Com os ingressos de sábados esgotados, O Vilar de Mouros começou com muito “Sexo” embalado em “electroclash” e oferecido pela mítica canadiana PEACHES; artista multifacetada, símbolo feminista, defensora ávida dos direitos LGBTQIA+ e que aborda o sexo em todas as suas temáticas e vertentes há décadas, junto de suas bailarin(a)(o)s, com trajes, ou quase sem eles, em performances que vai do sensual, passa pelo exótico e por vezes resvala no bizarro, sempre a provocar e instigar o público aos motes eventualmente polémicos de seus temas. Destaca-se ainda a versão de “Private Dancer” de Tina Turner. Seguindo, ainda em vocais femininos fortes, agora de Sandra Nasić, subiu ao palco a banda alemã GUANO APES a completar duas décadas a destilar seu rock alternativo com muito vigor numa apresentação que contou ainda com a versão bem mais poderosa de “Big in Japan” dos Alphaville. Também em celebração, só que de 40 anos, os JAMES foram um dos responsáveis pelo esgotar do último dia do festival, tal é o carinho e respeito dos portugueses com a banda britânica liderada por Tim Booth. Com carisma, empatia e simbiose incríveis, o brilhante coletivo de Manchester é aposta certa em espectáculos perfeitos, onde êxitos como “Sit Down” e “Sometimes” são meros detalhes e a falta de outros como “Born of Frustration” passam desapercebidos. Tão grandioso que Tim nadou pelo mar de gente que inundou o recinto por minutos, mas poderia continuar por horas se assim o desejasse. Fantástico!!! Também boa parcela de responsabilidade para a enchente do último dia do CA Vilar de Mouros deveu-se a banda originária do Porto e liderada por Manuel Cruz, os ORNATOS VIOLETAS são referência do rock alternativo desde os anos 90 e fizeram desta vez um concerto ainda mais especial e emotivo do que o habitual, sendo o primeiro após o falecimento do teclista Elísio Donas em maio deste ano.

O CA Vilar de Mouros 2023 foi mais uma edição de quebra de recordes com 25 mil pessoas na última noite e 70 mil no compito total. Em coletiva de imprensa confirmou-se a manutenção da próxima edição com quatro datas e a agenda marcada de 21 a 24 de agosto de 2024, com o desejo de atrair mais pessoal jovem, com sonoridades díspares das tradicionais, porém sem afastar e/ou desrespeitar os festivaleiros “habitués” do evento e ainda a promessa de reforço e ampliação das condições e infraestruturas para evitar alguns dos problemas na restauração, logísticas e trânsito verificados com a grande afluência deste ano.

Programe-se para 2024, o “Woodstock Português” é certamente um daqueles eventos inesquecíveis e uma experiência que merece ser vivida.

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