Coluna >> "aBRigo BRock" |
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Salve, todos os exagerados! Cazuza, 8. m. (Brás., Pernambuco) Espécie de vespídeo solitário, temido pela sua terrível ferroada. Sinôn.: cazuzinha. Ao contrário do inseto que lhe emprestou o nome como apelido, Agenor de Miranda Araújo Neto não era um cara solitário, pelo menos não lhe agradava ser. Solidão, que nada. Mas até podemos dizer que era temido. Surgiu, sem pedir licença, no mundo da música num momento em que o Brasil ainda vivia resquícios da ditadura e meteu o dedo nas feridas. Falou de política e sexo num heavy love sem medo de nada, escandalizando os sérios e os caretas, inclusive a mãe, que foi toda orgulhosa assistir ao show “Só as mães são felizes” sem ter antes lido a letra. Podia-se esperar qualquer coisa dele, era ao mesmo tempo um romântico dilacerado, apaixonado por Lupicínio e Cartola e um roqueiro no real sentido da palavra com Janis Joplin e Jimi Hendrix como seus ídolos. Cazuza nasceu com a nata da MPB freqüentando sua casa. Do quarto para a cozinha esbarrava em João Ricardo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, já que o pai, João Araújo, era produtor fonográfico da Som Livre e por isso tentou transformá-lo num profissional de gravata lhe dando um emprego na gravadora, um tiro que saiu pela culatra. Ainda bem! Conheceu Ezequiel Neves, (falaremos de Ezequiel Neves), e Roberto Frejat com quem fez uma das mais brilhantes parcerias do nosso rock e como sabia que quem tem um sonho não dança, não era metade, não era morno, tudo a que se proponha fazer, fazia exageradamente, amando, bebendo, cheirando ou escrevendo, vida louca vida, e num rock desvairado incendiou Frejat e sua Fender Stratocaster azul, Guto Goffi e sua Ludwig de acrílico com pratos Zildjian, Dé com o Gianini Stratosonic e seu amplificador tremendão e Maurício Barros com seu Hammond modelo L100 e o piano RMI, convidando todos para fazer história. O Barão fez sua primeira aparição em público em janeiro de 1982, em um condomínio na Barra da Tijuca e em poucas semanas, fizeram clássicos como “Bilhetinho azul”, “Ponto fraco” e “Todo amor que houver nessa vida” que entrariam no primeiro trampo da banda, um disco que faz da espontaneidade seu maior trunfo. Em 83 lançam o segundo disco “Barão Vermelho 2”, seguido de "Maior Abandonado" de 84. No ano seguinte Cazuza lança seu primeiro disco solo com as dinamites, "Exagerado" e "Codinome Beija-Flor". O segundo sem a banda vem em 87 com o titulo "Só se for a dois", em 88 lança "Ideologia" e no mesmo ano "O tempo não para - ao vivo", Cazuza tinha pressa. Em 1989 Cazuza apresenta o disco "Burguesia" e se despede com parcerias como Rita Lee, Lobão, Angela Rô Rô e claro, o irmão Roberto Frejat.
"Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito” Depois de ver a cara da morte, Cazuza tornou-se um artista mais maduro, porém não abriu mão da atitude rock’n’roll. Como aquele vespídeo continuou transtornando. Cuspiu na bandeira do Brasil em público e foi o primeiro artista brasileiro a enfrentar o medo das pessoas e se declarar soropositivo, mas no dia 07 de julho de 1990 o dia não nasceu feliz. Cazuza perdeu a árdua batalha pela vida, mas deixou um legado de canções inesquecíveis que embalaram a juventude de muita gente, inclusive a minha. O Abominável Ezequiel das Neves O cara lançou o Barão Vermelho, uma das maiores bandas do Brasil e uma das minhas prediletas, mas não foi só isso. Mais do que produzir Made in Brazil, Rita Lee, Cássia Eller e, claro, o Barão, Zeca Jagger ou Zeca Rotten, como era chamado, compôs, escreveu e viveu o estilo de vida rock’n’roll, entendia da parada. Foi para Nova York em 1969, um mês depois de acabar o festival Woodstock e voltou de lá chapado de rock. Como era jornalista e trabalhava no Jornal da Tarde, tornou-se a principal fonte de (des)informação sobre música roqueira no país. Alcoólatra desde os 9 anos, Ezequiel Neves, que morreu ontem, dia 07 de julho, exatamente 20 anos depois de seu discípulo e grande amigo, foi um daqueles personagens, - como Lincoln Olivetti e Pena Schmidt por exemplo - do rock brasileiro que apesar de não ser um musico famoso e tal, nem sequer músico era, ajudou a traçar os caminhos que o estilo viria a percorrer no Brasil e há dois anos, com Guto Goffi e Rodrigo Pinto, lançou o livro “Barão Vermelho – Por que a gente é assim”, uma obra que você que curte o Rock Brasil não deve deixar de ler.
Na manhã do dia 15 de janeiro de 1985, a ditadura militar veio, definitivamente, abaixo com a escolha de Tancredo Neves para presidente da República. No mesmo dia, com algumas horas de diferença, Cazuza e o Barão se despediam do público do Rock in Rio com “Pro dia nascer feliz” e discursando com seu leblonês carregado: “Que o dia nasça feliz amanhã pra todo mundo! Um Brasil novo... uma rapaziada ishsperrrtaaa!!!” Viva Cazuza! Tente descansar um pouco Ezequiel! |