Banda: "Acid Louise"
Respostas: Nina (guitarra), Natália (vocal) & Dessa (baixo)
Data: Abril de 2011
A banda teve um início incomum, mas ilustra bem os dias em que vivemos. Conte-nos.
Nina Prado: A gente se conheceu em 2006 por uma comunidade do Orkut, éramos todas menores de idade, na faixa de 15 a 18 anos, então até nossos pais apoiarem nossa idéia foi algo bem complicado, e levou tempo.
Viajar para outro estado para ver suas amigas de internet é bem perigoso.
Hoje em dia tudo é feito pela internet. Mas na minha opinião considero as amizades feitas online superficiais. Não dá pra confiar cegamente em pessoas que conhecemos apenas online. Quando comecei a passar as musicas para as meninas, a gente já tinha se visto pela webcam. O que faz da nossa banda uma exceção, é que realmente nos tornamos melhores amigas, algo que ultrapassou os limites da distancia. A confiança entre nós sempre foi um ponto fortíssimo para a banda.
Natália Trentini: Pois é, mesmo tendo nos conhecido desta maneira inusitada, o mais legal era realmente esta confiança. Confiança de que o desejo de fazer a banda dar certo era o mesmo em todas. Apesar de parecer uma loucura ter uma banda com integrantes morando tão distante, nós quatro estávamos certas disso. Não é fácil ficar quatro anos esperando e imaginando como fazer. Só que tivemos paciência. Não tínhamos dinheiro e nem idade para fazer as viagens. Hoje a Nina vem pra cá tranquilamente, algo que não seria possível antes.
A banda deu certo porque tinha que dar, e nosso caso ilustra bem a maneira com que a internet rompeu as fronteiras. Mas, é claro, é preciso sair do meio digital para botar as idéias em ação.
Dessa Coelho: Eu conheci a Marina no Orkut, ela queria tocar, eu queria tocar, conhecia a Ná que queria tocar, então a gente se juntou... pra tocar.
Como vocês superam as barreiras: distancia e tempo?
Dessa: Meios de comunicação e de transporte.O tempo a gente não superou ainda.
Nina: Na verdade o segredo é ouvir incansavelmente as nossas próprias musicas.
Dessa maneira o entrosamento é mais fácil e bem mais rápido quando nos encontramos.
Geralmente quando temos shows marcados, chego em Jaraguá do Sul ou em Guaramirim com pelo menos uma semana de antecedência. É bem cansativo, ensaiamos no mínimo umas 10 horas por dia, só assim para nosso show ser legal e convincente.
Um sonho que todas nós temos é de poder ensaiar com regularidade, mas infelizmente isso ainda não é possível.
Natália: Quando a Nina gravava uma música eu ficava escutando por semanas sem parar. Até saber a música de cor. Todas nós conhecemos muito bem as músicas. Cada uma ia imaginando como aplicar seus instrumentos ali e assim foi o processo. Confiamos muito uma na outra. O mais importante, sou fã delas e admiro as criações, a maneira com que aplicam suas habilidades nas canções. Acho que se você realmente ama aquilo que faz, se o desejo é grande, não tem como dar errado.
Qual foi a proposta inicial da banda? Depois de quase 5 anos, ela continua a mesma?
Nina: A proposta inicial era simples. Ser uma banda de rock formada apenas por garotas. E mesmo depois de quase 5 anos ainda continuamos tocando rock n roll numa banda formada por garotas. Todas nós queremos viver de musica, vivemos pela musica, e fazemos musicas. Pelo menos não me vejo fazendo outra coisa na vida, e acredito que as meninas também.
Desde o começo sabíamos que não seria fácil, mas isso não nos assusta nem um pouco, nossa garra é impressionante. Até eu me impressiono as vezes (risos).
Natália: Nossa proposta é tocar. Nosso som é esse e a sorte é nossa se alguém gostar (risos). Algumas coisas mudaram, mas foram mais coisas pessoas do que referente a banda, como algumas referências de bandas que conhecemos neste meio tempo.
Dessa: Queremos tocar e se divertir. É assim. Tem que ser sempre assim.
As composições da banda são somente em inglês, por quê? Qual a pretensão da banda após o lançamento do EP “Whores Of Babilonia”? De que forma expandir os horizontes da banda?
Nina: As musicas são em inglês porque simplesmente são. Eu não tenho um método de composição para a Acid Louise.
Simplesmente acordo e as vezes surge uma musica pronta. Mas tem vezes que não surge absolutamente nada. E até hoje só tive inspirações em inglês, e acho que elas andam dando certo. Sobre expandir os horizontes da banda...bem eu gostaria muito que a gente tocasse no exterior, acho nosso som bem acessível.
Natália: Acho que a melhor forma de expandir nossos horizontes é divulgando o nosso trabalho. É difícil conquistar espaço sendo uma banda com repertório autoral. O trabalho é incansável se você deseja conquistar território.
Dessa: A nossa pretensão é fazer shows e é assim que expandiremos horizontes e dominaremos o mundo com a ajuda do cérebro e do pinky (risos)
O que vocês acham do mercado atual da música? E no ramo/estilo de vocês?
Nina: O que toca nas rádios na minha opinião não é muito legal. Acho as musicas de hoje em dia bem genéricas, parecem todas as mesmas.
Eu não acredito que temos que sair por ai inovando tudo por onde passamos, mas pelo menos temos que tocar com a alma.
Suar, rir e chorar com as musicas que tocamos é essencial para fazer um trabalho legal.
Emocionar é uma coisa maravilhosa e gratificante. Não tem nada a ver com técnica, tem a ver com sentimento.
Uma banda pra ser boa não precisa de muito. Simplesmente precisa ter sentimento e curtir o que ta fazendo. O mercado atual da musica esta escasso de emoção.
Agora rock n’ roll é nosso ramo, e isso não morre nunca. Um pouco de suor, um pouco de raiva e um pouco de desentendimentos amorosos e guitarra distorcida nunca sai de moda, nunca ta em baixa.
Natália: Existem muitas bandas fazendo música boa no Brasil. Mas a maioria está tocando em pequenas casas de shows, ou ainda estão presas nas garagens. Não existe uma cultura de ouvir o que está fora do circuito midiático – TV, rádio, grandes portais de internet. O país perde muitos talentos por não valorizar estilos além do que é taxado como nacional.
Qual a preferência musical em comum do grupo?
Dessa: Rock e Lady Gaga. Eu acho.
Nina: Rock sujo, rápido, cuspido, com um pouco de esmalte e gloss labial. Bandas femininas é nossa preferência musical em comum. Girlschool, The Runaways, The Donnas, e minha preferida atualmente, Sahara Hotnights.
Natália: Gostamos de músicas viscerais, que nos mostrem emoção.
Do cenário atual do rock, algum artista se destaca na opinião de vocês?
Nina: Eu, Nina Prado, adoro Motorhead e vou achar sempre que eles são os melhores do cenário atual e do cenário do passado, e dos cenários que estão por vir.
Natália: Para mim a Juliette Lewis é uma grande artista. Com a Juliette and the Licks ela ganhou espaço aqui no Brasil. Agora ela segue carreira solo, apesar de eu preferir as músicas antigas, continuo achando ela ótima.
Dessa: Eu gosto de The Killers. Acho uma proposta bem diferente. Principalmente pela letra, apesar de ter vindo junto com a onda nova-iorquina dos Strokes em 2000.
Podemos esperar um álbum completo?
Nina: Sim com certeza! Isso é um fato! Já estamos com algumas músicas novas. Vai ser bastante acido na veia.
Natália: Por nós estaríamos agora mesmo gravando! Se alguém aí tiver afim de patrocinar, melhor ainda... (risos).
Dessa: Espero que possam esperar. Heh.
Vocês aceitariam sofrer adaptações no formato das músicas podem para uma suposta inclusão na mídia?
Nina: Não.
Dessa: É. Se essas adaptações incluírem dançarinas de auditório e clipes com guitarras rosas, eu acho que não.
Qual o trabalho que uma banda de rock pode desempenhar nos dias de hoje?
Nina: Vários, entre eles incentivar o desabafo em grupo! Uma boa banda de rock é quase um tratamento psicológico. Somos praticamente terapeutas de nós mesmos, e das pessoas que nos ouvem.
Natália: É muito bom poder despertar emoções nas pessoas. Acho que a música faz isso, tira as pessoas da apatia.
Dessa: Ser sincera. Eu acho que o rock mais do que os outros gêneros, ele tem a obrigação de ser autêntico.
Pela diversidade dos locais onde residem, vocês conseguem atuar em todos eles?
Dessa: Não. A gente toca aqui (no sul) porque foi aqui que aconteceu.
Nina: Mas música a gente consegue fazer com que toque em qualquer lugar. É só entrar devagarzinho.
Natália: Até agora fizemos shows aqui em Santa Catarina. O cenário é legal aqui, tem bastante bandas na região e locais pra tocar. Como começamos aqui, nosso trabalho é mais conhecido na região e isso ajuda. Mas a gente ta na luta, depois de quatro anos esperando pra começar a tocar, exercitamos muito nossa paciência. Vamos aos poucos trabalhando para conquistar novos horizontes.
Qual recado vocês deixam para os leitores do ROCK SP?
Nina: Quero agradecer a oportunidade que vocês nos deram para falar um pouco sobre nosso trabalho. E espero encontrar os leitores em algum show nosso! Todos nossos convidados.
Natália:Escutem nossas músicas (isso é importante!), conheçam nosso trabalho e nos sigam no twitter (risos).
Dessa: Nos chamem para tocar aí!
Por ROCK SP