Por André Augusto Valente / Foto meramente ilustrativa da passagem da banda pelo país (divulgação)
(publicada em 6, abr, 2020 | 04h07)

O maior alcance nacional da banda britânica The Mission, foi no exato ano 2000. Apesar de ser um grupo dos anos 80, mesmo com a venda considerável de discos e fitas, a década de 90 não esteve a seu favor e o The Mission acabou popularizando-se apenas no cenário alternativo brasileiro. Com o lançamento de coletâneas e os 12 anos desde a primeira vinda ao Brasil, o mais esperado, maior e melhor show do The Mission no Brasil, foi em 16 de junho de 2000; exibido numa das melhores casas que a cidade de São Paulo já teve, o Via Funchal!

A primeira passagem da banda pelo Brasil não foi boa por causa de todo um contexto que havia no fim dos anos 80: o show foi mal divulgado, aconteceu em condições técnicas precárias, na época havia um descaso descomunal - negligência pura com shows e bandas de porte pequeno. As próprias bandas achavam 'bonito' ser underground e os holofotes sempre apontando para o lado oposto. O The Mission foi infeliz na escolha dos set lists para SP; portanto todos os fatores juntos potencializaram o que poderia ser uma catástrofe. Isto mal foi lembrado 12 anos depois!

De volta ao show em Via Funchal que reuniu um público mesclado, onde havia 'trintões darks' que já curtiam a banda e 'jovens pops' que apostavam na banda como aquela que tocava nas rádios; músicas como "Severina", "Stay With Me" e "Like A Child Again" estavam sempre nas programações. Este foi a única apresentação no Brasil que afirmou a época em que o The Mission foi uma banda grande. A banda não lançara nenhum álbum de expressão desde o "Grains of Sand" (1990), portanto o público presente não 'boiou' com canções, na época, novas e não sofreu com músicas sem expressão. Os ingleses acertaram em 90% do set list proposto mas São Paulo ficou com o show mais curto, no Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba, os set lists foram mais longos.

CURIOSIDADE
Esta resenha parece estar bem negativa mas na verdade o objetivo é mostrar a superação cultural do The Mission.
Repare em mais um detalhe: este show, que é considerado o melhor, nem era para acontecer...

- relato de Bacalhau (baterista)
Numa tarde inesquecível de 2000, na hora do almoço, estava na “casa amarela”, quartel general do Rumbora, banda que eu tocava na época. De repente toca o telefone e a ligação é pra mim. Quem quer falar comigo é o Digão (Raimundos), que perguntava se eu estou sentado, pra dar a surreal notícia de que estava na 89fm e que tinha ouvido o produtor do show da banda inglesa The Mission UK desesperado porque o baterista havia perdido o voo pro Brasil, deixando a banda na mão. Rapidamente o Digão intervém, falando que conhecia a pessoa que resolveria a situação. Ele fala pra eu ir voando pro Via Funchal, pra fazer um teste com a banda, que já estava lá, desesperada com a possibilidade de cancelamento do show. Largo meu prato na mesa e saio correndo com o Alf (quem me apresentou o som da banda, lá no ano de 86) que nem louco, com meu equipo, discos e vestido com uma camiseta da banda, velha, toda furada, que guardava como relíquia das épocas de ralação de Brasília. Chegando no local, fui direto pro palco e lá estavam os ídolos, Wayne Hussey, Craig Adams e Mark Thwaite; em círculo, com os instrumentos pendurados, e com uma expressão de “o que vamos fazer?”
Quando perceberem a gente chegando, às pressas, munidos de uma parafernália, vestido com a camisa da banda toda rasgada; aí que eles não entenderam nada. Falei que era fã e que queria fazer o teste. Meio descrente o Wayne perguntou o que eu sabia tocar, e eu disse que tocava tudo, até o álbum “Masque”. Mais descrente ainda, mas sem ter o que fazer, falou pra eu montar a batera. Quando tudo estava pronto, ele falou, qual? Eu disse que a escolha era dele, e ele falou “Beyond The Pale”. Já puxei a contagem no Chimbal e começamos a música. Tudo no lugar, até as convenções do solo, que conforme passavam, ele olhava pro Craig Adams, com cara de surpresa e satisfação. Terminada a música eles vieram sorrindo perguntando qual a próxima. No final da conta, montamos o “set list” juntos e passamos a tarde inteira ensaiando o show. A noite, casa lotada, tive um dos dias mais incríveis de toda minha vida/carreira. Sou eternamente grato ao Digão, pelo telefonema, e ao Alf, por me ajudar no show, lembrando as partes das musicas. Rock!!!!

Enfim, a banda tocou para umas 3500 pessoas em São Paulo e tudo correu dentro de sua normalidade. Agora, hoje em dia é mais fácil assistir um show de Wayne Hussey com o violão empunhado, do que um show do The Mission elétrico e eletrizante.

SET LIST SÃO PAULO 16/06/2000: 1. Beyond the Pale / 2. Hands Across the Ocean / 3. Into the Blue / 4. Naked and Savage / 5. Garden of Delight / 6. Butterfly on a Wheel / 7. Sea of Love / 8. Severina / 9. Swoon / 10. Blood Brother / 11. Tower of Strength / 12. Deliverance / 13. Like a Child Again / 14. Without You / 15. For Ever More.

SET LIST RIO DE JANEIRO (Metropolitan) 18/06/2000: 1. Beyond the Pale / 2. Hands Across the Ocean / 3. Into the Blue / 4. Raising Cain / 5. Garden of Delight / 6. Butterfly on a Wheel / 7. Never Again / 8. Heat / 9. Severina / 10. Swoon / 11. Sea of Love / 12. Tower of Strength / 13. Deliverance / 14. Can't Help Falling In Love / 15. Like a Child Again / 16. For Ever More / 17. 1969 / 18. Daddy's Going To Heaven Now.

SET LIST CURITIBA (The Forum) 22/06/2000: 1. Beyond the Pale / 2. Hands Across the Ocean / 3. Into the Blue / 4. Naked and Savage / 5. Garden of Delight / 6. Butterfly on a Wheel / 7. Sea of Love / 8. Severina / 9. Swoon / 10. Blood Brother / 11. Tower of Strength / 12. Deliverance / 13. Like a Child Again / 14. Without You / 15. For Ever More / 16. Daddy's Going To Heaven Now.